Waldorf – Uma educação que mantém a nossa identidade

 

Waldorf – Uma educação que mantém a nossa identidade

 

No meu último artigo, escrevi sobre as vantagens e desvantagens dos manuais digitais. Parece-me que é inevitável a introdução dos meios tecnológicos na sala de aula, e que tal pode contribuir de forma positiva na aprendizagem dos alunos. Contudo, apercebi-me que estamos a ficar reféns da tecnologia, de um mundo cada vez mais virtual, e de uma sociedade cada vez menos humana.

 

Precisamos de uma mudança no paradigma da Educação. As escolas de hoje não servem os interesses das crianças, mas sim os interesses económicos do Estado. É um paradoxo, pois a economia de um país é determinante para a nossa qualidade de vida. No entanto, as “almas das crianças estão a ser sugadas” na maior parte das escolas… Todos os alunos são tomados como iguais, e a educação tem tido como fim a uniformização, uma simples preparação para o mundo laboral que é cada vez mais tecnológico e virtual.

Os sucessivos governos portugueses têm-se esforçado para tornar o país mais competitivo economicamente de forma a conseguir dar melhores condições de vida à população. Mas a qualidade de vida é um conceito bastante subjetivo, e está relacionado com os valores e expectativas que vamos adquirindo desde crianças. Se é incutido desde cedo que a qualidade de vida é ter meios materiais e sucesso profissional, será o consumismo a busca para a felicidade durante a sua vida e a procura de uma carreira profissional a condução para um estilo de vida, relegando para um plano inferior aspetos como solidariedade, amizade, família, respeito pela natureza e pelo seu próprio bem-estar e identidade…

Estamos a caminhar para uma perda de diversidade a um ritmo alucinante, a perder valores que correspondem à identidade e à essência humana. Estamos cada vez mais dependentes da tecnologia e a própria educação já está a ser transformada por ela. Não tirando valor aos benefícios da tecnologia para a nossa qualidade de vida, penso ser importante assegurar na educação um equilíbrio entre o meio digital e o meio físico. Para além do desenvolvimento de competências para o mundo laboral deve-se valorizar a natureza, as relações com os outros e o autoconhecimento.

Os documentos curriculares portugueses determinam que esses aspetos devem ser abordados nas salas de aula. Mas não é fechados entre quatro paredes, através de manuais e de testes interativos, que os alunos irão adquirir competências e valores significativos nesses campos. É através do próprio contacto com a natureza e do contacto com os outros. É através do respeito pelas características individuais de cada aluno e dos seus interesses. É importante, sobretudo nas crianças mais novas, deixá-las ser simplesmente crianças!

 

Felizmente, há quem lute por uma escola diferente, e muitos projetos têm surgido como alternativa à escola tradicional. Hoje, apresento-vos a Escola Waldorf.

A Pedagogia Waldorf, criada já há cem anos, é uma abordagem pedagógica baseada na filosofia da educação do filósofo austríaco Rudolf Steiner. Procura integrar de maneira holística o desenvolvimento físico, espiritual, intelectual e artístico dos alunos. O objetivo é desenvolver indivíduos livres, integrados, socialmente competentes e moralmente responsáveis. As escolas e professores possuem grande autonomia para determinar o currículo e as metodologias a serem trabalhadas com os alunos.

 

Vale mesmo a pena assistir ao seguinte vídeo:

 

A Pedagogia Waldorf acredita que para conseguir um bom desenvolvimento inteletual é necessário existir uma base emocional sólida. Por isso, aposta em ambientes livres e cooperativos, sem provas e com forte apoio nos trabalhos manuais e na arte. Incentiva e encoraja a criatividade, nutre a imaginação e conduz os alunos a um pensamento livre e autónomo.

Procura-se, no fundo, desenvolver as qualidades necessárias para que os jovens floresçam e saibam lidar com as constantes e velozes mudanças que se apresentam no mundo com criatividade, flexibilidade, responsabilidade e capacidade de questionamento.

Hoje, já está implantado em vários países dos cinco continentes. Em Portugal, a pedagogia Waldorf foi introduzida em 1984 por Ana Abreu, fundadora do Jardim de Infância S. Jorge, em Alfragide, onde se encontram crianças entre os 4 meses e os 6 anos. Segundo esta educadora “é muito importante que as crianças brinquem livremente e que expressem aquilo que elas realmente sentem, ou seja, não a partir das nossas agendas, mas a partir daquilo que elas necessitam desenvolver e criar”. Atualmente, são várias as escolas, jardins de infância e outras iniciativas que lecionam de acordo com esta pedagogia (no fim do artigo encontram-se os links para as mesmas).

 

A análise do desempenho de escolas Waldorf em comparação com outras escolas é considerada por muitos inconclusiva, devido à escassez de relatórios imparciais de teor quantitativo e qualitativo. Isto ocorre devido ao facto de que o conceito de avaliação por notas ser considerado contrário aos ideais da escola Waldorf. Existem, entretanto, vários estudos quantitativos sobre o excelentes resultados das escolas Waldorf (artigos de Douglas Gerwin e David Mitchell, “Standing out without standing alone: profile of Waldorf School graduates”, com várias tabelas e com estatísticas mostrando o excelente desempenho dos formandos em escolas Waldorf nos Estados Unidos; o trabalho de Wanda Ribeiro e Juan Pablo com ex-alunos da Escola Waldorf Rudolf Steiner de São Paulo, no Brasil).

 

 

Será este tipo de pedagogia o melhor? Depende do que pretendemos para as nossas crianças. Queremos que elas sejam felizes, mas temos de questionar primeiro o que realmente irá contribuir para essa felicidade. Podemos abraçar as novas tecnologias no ensino conciliadas com metodologias mais livres e que vão ao encontro das características das crianças e que promovam o autoconhecimento e o respeito pela diferença. Com esta base educacional, será possível construir uma sociedade mais diversificada, mais respeitadora, mais responsável, mais feliz, mais humana!

 

É importante saber viver sem pressa! É importante saborear a vida, valorizá-la como ela merece. É importante a educação nesse sentido, não só para servir interesses de estados! Estamos a entrar num mundo cada vez mais tecnológico e virtual, isso é inevitável. Entretanto, os valores que queremos incutir nas crianças e a forma como as preparamos para esse mundo, já depende de todos nós. 

 

“Pedagogia Waldorf não é um sistema de ensino, mas uma arte – A arte de despertar o que está realmente lá dentro de cada ser humano” 

Rudolf Steiner

 

 

Luis Carrilho


PRINCÍPIOS BÁSICOS DA PEDAGOGIA WALDORF

 

 


JARDINS DE INFÂNCIA WALDORF

ESCOLAS WALDORF

INICIATIVAS WALDORF

FORMAÇÃO EM PEDAGOGIA WALDORF

Fonte: https://www.cristinasiopa.pt/pt/links-waldorf


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