Haverá alguma turma neste país sem alunos a faltar devido ao covid-19?

 

Arrancaram, na última segunda-feira, as aulas do segundo período, após adiamento de uma semana devido ao contexto epidemiológico vivido no país. Muitos defenderam novo adiamento, outros que as aulas deveriam ser dadas à distância. Como tem sido este regresso às escolas?

O terceiro dia de aulas do segundo período coincide com um novo máximo diário de casos de covid-19: 40 945 novos casos! 276 894 ativos no momento. Não contando com os que não conseguiram entrar em contacto com a saúde 24 e que autoisolaram-se. E não me parece que fiquemos por aqui. O número de casos continua a aumentar e o número de alunos e professores sem poderem ir à escola também. Pergunto-me: será que haverá alguma turma neste país sem alunos a faltar por estarem infetados ou em isolamento?

Esta questão é pertinente para perceber o que as escolas estão a fazer para acompanhar os alunos que estão em isolamento. Aqui, a resposta é mais clara. As escolas privadas dão continuidade ao apoio, quer seja através de aulas à distância, quer através de atribuição de tarefas com esclarecimento de dúvidas. A avaliação também não é interrompida. No caso das escolas públicas, o cenário já é bastante diferente. A larga maioria não faz nada! A maior parte dos alunos em isolamento das escolas públicas está simplesmente em casa, sem aulas, sem apoio, de “férias”?

Como é isto possível? Como não foi possível aprender com o passado e as escolas públicas ainda não se terem adaptado a esta nova realidade? Não sabemos quanto tempo ainda estaremos nesta situação, e quantas mais pandemias poderão surgir no futuro. Parece-me que a escola tem de evoluir e já teve tempo para isso.

Obviamente que esta adaptação da Escola Pública é de maior dificuldade de surgir devido à necessidade de recursos financeiros e à maior dificuldade de acesso à tecnologia. Por isso mesmo, ainda no verão de 2020, o primeiro-ministro António Costa apresentou com pompa e circunstância um investimento de 400 milhões para a Educação! Chamou ao novo projeto Escola Digital e prometeu computadores, recursos digitais e conectividade para todos. O nosso ministro da Educação, Tiago Brandão, explicou: “no próximo ano letivo [2020/2021] serão implementadas as medidas, em diferentes fases, que possam permitir a disponibilização universal do acesso e da utilização de recursos educativos digitais. Assim, numa primeira fase, prevê-se ao nível infraestrutural adquirir computadores, conectividade, licenças de software para as escolas públicas de modo a permitir disponibilizar estes recursos a alunos e docentes dando prioridade aos alunos abrangidos pela ação social escolar, até alcançar a utilização universal”.

Resultado prático disto tudo? Mínimo ou nenhum! As condições atuais simplesmente continuam a aumentar as desigualdades entre os mais favorecidos e desfavorecidos e entre o ensino praticado no privado e na Escola Pública. Apesar das medidas anunciadas, na prática, não se está a fazer o que se podia fazer para garantir uma maior equidade no acesso a uma educação de qualidade, face ao contexto em que vivemos.

Para agravar toda esta situação, aproximam-se as eleições. E tudo isto que se está a passar nas escolas deixa de ter importância, passa a assunto menor, e não há meio de criar melhores condições de ensino para todos. Faz-me questionar porque não é a Educação gerida de forma independente ao governo, e assim não estar completamente dependente das ideias de cada ministro de Educação que entra no poder. Mas isso “são outros quinhentos”…

 

Resumindo: com tantos alunos e professores em isolamento atualmente, com tanta falta de resposta a estes alunos que ficam sem aulas, que tipo de alunos vamos ter nos próximos tempos? Isto sem contar que já vêm com aprendizagens por recuperar devido ao dois confinamentos passados!

Confesso, estou preocupado!

 

Luis Carrilho

 


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